domingo, 12 de abril de 2009

O homem

Daí que inventaram o homem
fizeram-no imperfeito e sujeito aos vícios
disseram a ele que saísse a aprendesse tudo que pudesse antes de voltar pra casa

ele foi, sem saber o que devia aprender
procriou, povoou a terra
daí criou civilizações
daí criou leis

continuou buscando, mas em algum momento esqueceu do seu único real destino
começaram a se dividir, então, duas classes de homens
os que continuavam a busca pelo aprendizado
e os que achavam que de tudo já sabiam e agora só queriam ensinar aos outros homens

o segundo tipo de homem criou muitas coisas
colégios, universidades, mais leis e instituições
criou a mentira e mil formas de alimentar a vaidade
semeou a descrença no poder pessoal e disseminou a fé num criador punitivo e autoritário

tendo o segundo tipo feito tudo que era possível,
sobrou ao primeiro apenas sentar e contemplar as mudanças
ver o mundo avançar em uma velocidade que o espantava
restou a ele refletir

sobrou ao primeiro tipo pensar em como ele poderia aprender mais naquele mundo tão diferente do mundo que ele conhecerá outrora
e ele pensou, na verdade, desejou de todo coração encontrar o conhecimento
então, desesperado chorou, sentiu-se incapaz,
sentiu-se sobretudo, sozinho

questionou-se e quis saber porque não conseguia encontrar as respostas dentro de si
e, de fato, achou que teria fracassado em sua missão, enquanto o segundo tipo teve tanto sucesso

nesse momento, entretanto, ele sentou-se e tentou limpar sua mente
entendeu que a dor e o sofrimento pelo qual tinha passado a poucos minutos, era parte de sua natureza
entendeu que fracasso e sucesso são convenções abstratas, não existem por si só
entendeu que toda sorte de tecnologias não seriam suficientes para acalmar sua solidão
entendeu que todo conhecimento do mundo não cabe em um só homem
aprendeu, sentiu-se livre e, enfim, pode morrer e voltar ao seu criador.

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