sábado, 5 de dezembro de 2009

Ela

ela era a eleita pra esconder sorrisos
devia ser, pelo menos todos sorriam quando a viam
e ela com deleite guardava cada um daqueles sorrisos
até respondia a alguns com uma piscadela

ela era um paraíso de exatamente um metro e sessenta
ela trazia o fogo bem vivo nos cabelos
mas como fogo era perigoso demais pra se brincar
ela tinha o oceano inteiro contido naqueles olhos azuis

ela era grega na beleza, espanhola na vivacidade e brasileira no rebolado
ela tinha o vigor dos 16 anos e a sabedoria dos 40
ela era o sonho
ela sempre foi meu sonho

ela não tinha noites ruins, pneuzinho sobrando ou medo de escuro
mas ela tinha aquela saia de babados lilás que deixava suas lindas coxas aparecendo, isso ela tinha.
ela não era essa ou aquela garota
ela era eu... mas só eu sabia disso

terça-feira, 25 de agosto de 2009

"Eu não sei pra que tudo isso"
ela disse quando não aguentava mais sofrer.
"Se você não precisa da dor, deixa ela aqui e segue teu caminho"
foi o conselho mais sábio de todos.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Sharing the Guilt

como se diz que não se quer mais o que nunca se quis?
se você é fraco demais pra verdade, não deveria estar nisso
e se não quer ver aqueles olhos sofrendo, simplesmente não faça nada.

domingo, 21 de junho de 2009

Fantasiada Realidade

Eu, assustadoramente, sabia o que aquelas palavras ecoando na minha cabeça deveriam significar.
Eu não queria pensar nelas, não queria muito menos ouvi-las de novo.
Tudo que costumava ser extremamente colorido pra mim, se tornava gradativamente cinza chumbo.

Mordia meus lábios furtivamente.
Eu, assustadoramente, sabia que a culpa era toda minha.
A Rainha de Gelo pomposamente sentada em um trono de arrogância, era isso que eu certamente veria se encontrasse um espelho no meu caminho.
Mas agora eu não estava certa se haveria um caminho pra mim, muito menos um espelho. Então, me mantive ocupada por um tempo tentando imaginar o que eu gostaria de ver nesse espelho além da Rainha de Gelo, você sabe, possibilidades são sempre uma deliciosa ilusão.
Então eu me concentrei em imaginar, e quando eu consegui formar imagens mentais naquele grande espelho vazio na minha mente, foi um grande baque. Eu finalmente vi o no que eu adoraria me transformar, eu vi claramente o que eu mais desejava ser. E isso doeu.
Eu conseguia ver claramente por trás das minhas pálpebras, uma menina comum sentada em um meio fio. Ela abraçava seus joelhos, mas esse gesto de forma alguma tinha um tom preocupado, era mais sereno que isso, era como se abraçando os joelhos ela conseguisse se manter firme o suficiente.
Os olhos dela se perdiam em algum lugar que o meu espelho não conseguia refletir, era bem além, era como se ela soubesse exatamente onde terminava a linha do horizonte e mantivesse seus olhos distraidamente nesse ponto, e foi aí que eu reconheci que eu queria ser essa garota, por um detalhe muito simples: seu rosto calmo carregava certa malícia, tinha um riso oculto que traduzia perfeitamente seus pensamentos, era como se ela falasse, com a voz suave que ela certamente tinha, "seus bobos, se perdem em todas essas coisas, mal sabem que a paz de que precisam está aqui comigo". Ela fascinava, e nem se esforçava pra isso.

Mas eu balancei a cabeça como se pudesse afastar aquelas imagens que eu tinha criado, mas era tarde demais, as lágrimas brotavam. Eu sentia toda a culpa de uma existência completamente vazia, era como se eu até agora fosse um zumbi, ou qualquer desses seres míticos.
Eu me dei conta de que não podia ficar me prendendo nessas questões, eu tinha uma missão, que mesmo aos prantos, era importante demais.
E se eu conseguisse mover minhas pernas, seria ótimo, mas eu não conseguia. Na primeira tentativa, meus joelhos tremeram de um jeito esquisito, nunca havia sentido aquilo, e o medo me pôs de volta na posição inicial, eu podia querer acabar com tudo isso, mas ainda não tinha perdido completamente o bom senso.

Tentei me recompor aos poucos, esvaziando os pulmões e tornando a enche-los de ar fresco. Fiz isso quantas vezes achei necessário, e quando senti as lágrimas secarem nas minhas bochechas, vi que estava pronta pra ir.
Então eu abri a porta e segui para o meu destino, e era engraçado usar essa palavra. Em toda minha vida eu só me lembro de tê-la evitado, mas agora eu tinha usado ela, mentalmente, mas tinha.
Sai para a rua de um fôlego só, Deus sabe o quanto eu queria ser rápida o suficiente para não ser alcançada pelo arrependimento.
Fui caminhando, tendo toda certeza de que evitei as linhas de ônibus no intuito de poder elaborar um pouco melhor as minhas ações, mas minha mente estava trabalhando de forma tão aleatória que não pude prestar atenção nos meus pés, e mais rápido do que eu previa, eu cheguei onde eu queria.

Mordi meus lábios de novo, mas dessa vez foi forte demais, senti o gosto de sangue. A dor não me incomodava, eu estava perdida demais para sentir dor. Eu sabia que teria que entrar cedo ou tarde, e sabia que provavelmente estava sendo dramática demais, então sentando em um desses cercados de árvore bem baixos, eu comecei a organizar minha cabeça.
Eu estava agora na frente da minha casa, dentro dela estavam as pessoas mais importantes para a minha existência, e tudo que eu precisava fazer era entrar ali e tentar começar a resolver os meus problemas.
Agora, ouvindo minha voz mental repassar esse plano, parecia assustadoramente egoísta e arrogante, ainda soava muito como a Rainha do Gelo, e combinava com ela também. Oportuno demais entrar em uma casa, cheia de pessoas fragilizadas que não me viam a mais de uma semana e disparar acusações petulantes, colocando sobre os ombros deles todas as minhas falhas morais. Com toda certeza do mundo, isso era a Rainha do Gelo.
Eu sorri, não estava feliz, nem calma... mas me analisar assim com tanta frieza era, com toda certeza, novo e assustador. Mas com todo o espanto que essa analise me causava eu só conseguia rir, e no minuto seguinte que percebi isso, eu senti nojo.

Nada estava certo no meu plano, eu só queria entrar batendo a porta pra gritar com todos, depois eu sabia que iria chorar, desabar e ficar mole como antes, mas eu queria acabar logo com isso. Eu conhecia as pessoas lá dentro, apesar do grande barulho inicial, tudo que eles fariam depois era me deixar chorar quieta, como sempre.
Eu teria colo, conforto, carinho. Tudo que eu sentia falta, na exata medida que eu precisava. Seria um problema resolvido.
No resto eu pensava depois, ou simplesmente não pensava. Não seria tão ruim, e quem eu pensava que era pra tentar resolver todos meus problemas de uma hora pra outra? Tinha que sobrar alguma coisa.

Eu estava nervosa demais, ansiosa demais.
Eu colocava a perna entre meus joelhos, tentava focar no meu plano, meu egoísta e mesquinho plano, mas não conseguia mais. Foi só pensar em evitar meus problemas, os segundos problemas, que eles se sentiram ofendidos e se fizeram fortes na minha lembrança.
É como se eles gritassem a plenos pulmões todas as verdades que eu não queria ouvir. Eu não precisava ouvir aquela voz enjoada me perguntando com aquela petulância conhecida, afinal era minha, "que tipo de pessoa se declara passional, sem nunca ter se entregado a qualquer paixão?", eu não podia ouvir o meu subconsciente me pregando peças do tipo "está tudo perfeitamente normal... exceto pelo seu medo descontrolado que ainda vai acabar te presenteando com um enfarto". Eu certamente estava farta, queria explodir, e foi exatamente isso que aconteceu: eu explodi em choro outra vez, dessa vez as ondas de lágrimas ácidas e cortantes vieram com soluços fortes o suficiente para acordar o bairro todo, só agora eu percebia como era cedo.
Respirei fundo pela última vez naquele dia, estava decidida que seria aquele o momento de encenar meu show, tudo em busca de redenção pessoal. Eu era definitivamente egoísta.
Foi nesse momento que eu senti uma mãozinha frágil tocando meu braço.
Eu olhei, um misto de curiosidade e medo fazia meu estômago se mover dentro de mim.
Eu me surpreendi até certo ponto, mas depois, colocando a cabeça em ordem, eu senti que aquele era o gesto que eu estava esperando desde o principio.
Parado ali, em pé ao meu lado, estava a criança mais atípica do mundo.
Ao mesmo tempo que mostrava as estruturas tão frágeis dos seus sete anos, escondia naquele olhar inocente que eu bem conhecia uma fortaleza. Eu sabia disso, porque muitas vezes era lá que eu ia me esconder.
Então sem dizer uma palavra, aquele garotinho com os olhos sonolentos e o pijama amassado se jogou no meu colo, como se ainda estivesse na sua própria cama e voltou a dormir.
Eu, imóvel como uma estátua, paralisada naquele momento pelo medo de acordar o meu pequeno anjo, senti que meu show era totalmente desnecessário: eu não precisava de perdão.
Aquela presença, trazia pra dentro de mim todo o conforto e paz que eu precisava pra pensar, e num momento. Tudo ficava claro.
Eu sabia que ia continuar imperfeita.
Errando.
Me ferindo e ferindo aos outros.
Mas agora eu tinha uma arma que simultaneamente era a razão perfeita para que aos poucos eu pudesse quebrar o meu gelo.
Eu senti que as coisa pra mim podiam se tornar verdadeiras, sólidas.
Eu sorri, agora era de verdade.
Eu não tinha mais medo.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Menina

Em qual daquelas curvas ela deixou o sorriso?
em qual das esquinas ela deixou de ser uma menina?
Em que rua ela aprendeu que não iria muito longe?
De onde ela tirou toda essa melancolia?

Eram perguntas, eram sempre perguntas
ela só acreditava nas perguntas que não podia responder

Porque amar tanto alguém que não sente sua falta?
porque sentir falta se não ama?
E de que serve toda a dor?
como seria não sentir nada disso?

Era pra ter o mundo nas mãos, conhecer cada pedaço dele
Era pra ter alimentado os sonhos, o olhar teria mantido-se vivo

Como ela cresceu tão rápido?
Como ela é tão infantil?
Porque sentir medo do desconhecido?
pra que serve o medo no fim das contas?

Ela não se sentir grande, mas era grande
Ela se sentia perdida, mas não estava tão longe assim

Ela queria os finais felizes...
mas até agora só tinha os finais.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

A varanda, a morte e a criança

Ela tinha seis anos
e entedia a morte como ninguém

sentava na varanda da vó
olhando sempre pro céu

a vó não estava mais ali a algum tempo
agora era só o vô e todos os outros

ela não sentia mais o cheiro dos biscoitos
não fazia mais bolinhos de chuva

aquela menina sentada na varanda entendia tudo
ela sabia que a morte não era o fim

sabia que os sofrimentos acabavam pra vida poder começar
sabia que não existia mais tristeza

mas seu coração não queria se acalmar nunca
ela sentia saudades

mas também sabia que a saudade era só o pior
sabia que era bom ter saudade dos vivos

pros mortos a lembrança
eles não queriam lágrimas

ela queria esquecer a dor
deixar de lado o bichinho verde da raiva

ela não saia da varanda
ela não parava de olhar pro céu

ela entendia da morte
mas não precisava saber tanto assim

só tinha seis anos
só tinha acabado de nascer

domingo, 12 de abril de 2009

O homem

Daí que inventaram o homem
fizeram-no imperfeito e sujeito aos vícios
disseram a ele que saísse a aprendesse tudo que pudesse antes de voltar pra casa

ele foi, sem saber o que devia aprender
procriou, povoou a terra
daí criou civilizações
daí criou leis

continuou buscando, mas em algum momento esqueceu do seu único real destino
começaram a se dividir, então, duas classes de homens
os que continuavam a busca pelo aprendizado
e os que achavam que de tudo já sabiam e agora só queriam ensinar aos outros homens

o segundo tipo de homem criou muitas coisas
colégios, universidades, mais leis e instituições
criou a mentira e mil formas de alimentar a vaidade
semeou a descrença no poder pessoal e disseminou a fé num criador punitivo e autoritário

tendo o segundo tipo feito tudo que era possível,
sobrou ao primeiro apenas sentar e contemplar as mudanças
ver o mundo avançar em uma velocidade que o espantava
restou a ele refletir

sobrou ao primeiro tipo pensar em como ele poderia aprender mais naquele mundo tão diferente do mundo que ele conhecerá outrora
e ele pensou, na verdade, desejou de todo coração encontrar o conhecimento
então, desesperado chorou, sentiu-se incapaz,
sentiu-se sobretudo, sozinho

questionou-se e quis saber porque não conseguia encontrar as respostas dentro de si
e, de fato, achou que teria fracassado em sua missão, enquanto o segundo tipo teve tanto sucesso

nesse momento, entretanto, ele sentou-se e tentou limpar sua mente
entendeu que a dor e o sofrimento pelo qual tinha passado a poucos minutos, era parte de sua natureza
entendeu que fracasso e sucesso são convenções abstratas, não existem por si só
entendeu que toda sorte de tecnologias não seriam suficientes para acalmar sua solidão
entendeu que todo conhecimento do mundo não cabe em um só homem
aprendeu, sentiu-se livre e, enfim, pode morrer e voltar ao seu criador.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

As grades

E qual é a graça do jogo se a cada movimento você deve cantar pra onde sua peça vai se mover?
E se for pra regular minha existência por horários, regras, previsibilidade, rédeas sempre tão curtas quanto as mentes, eu prefiro simplesmente não existir.

E quando todas as tentativas de convencê-los de que eu não consigo ser feliz se estou enclausurada nesta cadeia imensa de ordens e regras falharem,
talvez eu tente me enquadrar.
E quando eu falhar na tentativa de mentir pra mim mesma,
talvez eu sangre.
E quando meu sangue desistir das minhas veias e todos entenderem que talvez fosse melhor perguntar "como vai você?" ao invés do velho conhecido "onde você estava?",
talvez eu finalmente deixe de existir.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Verbos do presente

Acordar
Brincar
Caminhar
Dançar
Esperar
Fazer (tudo que der vontade)
Gozar (a vida)
Hospedar (dentro de si tudo que te torna maior)
Inspirar-se
Jogar (futebol, vôlei, bolinhas de papel...)
Ler
Morder (bochechas, braços, barrigas...)
Notar (que nada acontece por acaso)
Ouvir
Pensar
Querer
Rezar (não importa quem seja o destinatário das tuas preces)
Sentir (o mundo que te rodeia)
Tornar (o impossível realizável todos os dias)
Unir
Ver (não só com os olhos)
X (e aqui os verbos são encontrar e solucionar)
Zerar (e começar tudo de novo, quantas vezes forem necessárias)

quarta-feira, 11 de março de 2009

auto-liberdade

Liberdade pra amar
e pra se permitir o amor;

liberdade pra viver
e se permitir o espetáculo da vida acontecendo todos os dias;

liberdade pra sorrir
sem ter que se perguntar por que fazer isso;

liberdade pra conhecer mais do mundo
e das pessoas que compartilham o mundo com você;

liberdade pra criar o proprio mundo
e sabedoria pra não se perder nele;

liberdade pra pensar sobre qualquer coisa
e defender seus pontos;

liberdade pra cuidar da natureza como bem entender
e pra trazer mais dela pra dentro de si;

liberdade pra escolher entre o certo e o errado
sabendo sempre que se trata apenas de ponto de vista;

liberdade pra dizer "eu te amo"
não apenas pensar essa frase toda vez que ouvir aquela voz;

liberdade pras músicas altas
mesmo que ninguém entenda o que elas te fazem sentir;

liberdade pra criar
mesmo que ninguém leia ou entenda;

liberdade pra não gostar de estampas
mesmo que o mundo precise delas pra ser feliz;

liberdade pra ter manias estranhas
e não ligar quando te olharem torto enquanto você escolhe onde pisar;

liberdade pra gostar de homens diferentes
e não ter que explicar toda vez que você não procura por estatuas gregas;

liberdade pra odiar telefonemas longos
preferir contato direto não deve ser esquisito, né?

liberdade pra se aceitar sem condicionais
principalmente isso.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Na Janela

Eu tenho uma janela
que realmente não dá pra lugar nenhum
Na janela não tem vento, não tem paisagem
muito mal uma brecha de sol

Eu me penduro na janela
olho pro nada, não sinto vento
vejo minha brecha de sol e sossego

Sinto o vazio, sinto a solidão
penso, penso, penso
mas nada me tira daquela janela

Eu ali sem vento e com pouco sol
às vezes viajo sem sair da janela
muitas vezes, por sinal
mas é sempre a mesma janela no final

Na janela eu não faço nada
só observo, só vejo minha brecha de sol ir e vir
eu nunca penso em fechar a janela

Fecho algumas portas, sempre batendo-as
às vezes até puxo um pouquinho as cortinas
mas nunca por muito tempo:
sempre que passo e as cortinas estão puxadas, acho que fechei a janela.

Mesmo quando chove, deixo a janela aberta
Sempre encaro como uma ótima oportunidade pra observar a chuva
Daí sento no batente e percebo que a janela só dá para o nada
e me contento com aquele som distante.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Sonho

Fecho os olhos,sinto sua respiração.
Minha imaginação é tão fértil que mais alguns passos e eu poderia te tocar, mesmo estando tão longe de mim.

Focalizo seu sorriso na minha mente, mas eu estou tão doente que quase o perco a cada minuto.
Focalizo seus olhos, tudo sobre você, mas não adianta mais.
Te deixei partir mais uma vez.

Se foi sem nunca saber o quanto eu te amei.
Tento impedir que se vá, te escondo dentro de mim... mas peraí, não foi exatamente por isso que você partiu? Por estar tanto tempo preso dentro de mim...
Então eu grito, faço todos ouvirem o quanto te amo, e eles ouvem. Eles, não você.

Eu corro a rua inteirinha com meu coração na mão, te vejo lá no final mas nunca chego ao final.
Começo a me sentir cansada, sento no meio fio e você continua lá.
olhando sua silhueta contra o sol que começa a descer eu posso ouvir aquela música que sempre me fazia lembrar de você:

" Should i give up,
Or should i just keep chasing pavements?
Even if it leads nowhere,
Or would it be a waste?
Even if i knew my place should i leave it there?
Should i give up,
Or should i just keep chasing pavements?
Even if it leads nowhere "

A música é cantada em sussuros, e eu conheço a voz que canta... é você esta lá atrás de mim, cantando aquela música... e eu me viro ansiosa por um abraço e você some de novo.

Eu me desespero, me sinto perdida... mas não posso me achar se toda vez que eu chego tão perto, você simplesmente desaparece.
Me concentro, fecho os olhos e vou pro único lugar onde eu sei que você sempre estará: dentro de mim.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Furacões

Que você me ame
e o diga
Voaremos juntos, então
Somos criaturas de vento e poeira

Somos vento quando fortes
e poeira quando nos deixamos levar
Somos mais do que imaginamos ou queremos ser
Somos o que nós não esperávamos ser.

Nos transformamos a cada minuto
Mas por dentro sentimos sempre o mesmo
O desconforto da existência
O silêncio que causa eco

Porque?

Precisamos mudar mesmo que não seja definitivo
Precisamos nos sentir frescos como uma nova brisa
Mesmo sabendo que o furacão que guardamos
É velho companheiro

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Entre as linhas.

- Eu sonhei com você essa noite.
- E como foi?
- Não lembro direito.
- Aposto que foi louco, todos os seus sonhos são.
- E eu aposto que você é um chato, nunca vi julgar os sonhos dos outros.
- Boba!
- Tá bom...
(silencio)
- Tá curioso?
- Pelo quê?
- , o sonho!
- Ah, o sonho... não, eu só queria saber mesmo.
- Você nunca fica curioso?
- Talvez
- Talvez o quê?
- Nada, você pergunta sobre tudo!!!
- Simples, é que ao contrário de você eu fico muito curiosa.
- Você vive assim.
- É só que eu não sei mexer com as entrelinhas e todas essas coisas, então uso das perguntas.
- É porque com elas não se mexe, tente ler da próxima - ele ri, ela não.
- E você me entendeu, vive pra me irritar.
- Talvez.
- E continua.
- O quê, irritando? Eu juro que parei.
- Não, não é isso.
- Então ...
- É só que você continua a usar as entrelinhas mesmo sabendo que eu não as vejo.
- Talvez! - e agora os dois riem.
- Faz piada de tudo, tá vendo? Te conheço melhor a cada segundo.
- Tá, mas pra nos conhecermos mesmo levaria a eternidade... tem muita coisa escondida... dos dois lados.
- É e você nem imagina. - ela sussurra como se ninguém a pudesse ouvir.
- Ahn?
Ela fica vermelha.
- Você é insano.
- Não foi isso!
- Talvez. - agora ela ri.
- Tá bom, engraçadinha! - ele fecha a cara na tentativa de suborná-la.
- De nada, também te amo!
- Como? - A frase quase provocou eco, ela enrubesceu e ele imediatamente iluminou seus olhos.
(silêncio)
- Ok então, hora de aproveitar a trégua e ir antes que você recomece a temporada de piadinhas que me irritam.
- Como quiser, pode voltar sempre que o estoque é grande.

Ambos sorriem, e se despedem de longe.
Diferentes direções
Diferentes lares
Diferentes visões
Mas dentro do peito a mesma vontade de gritar.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Sophia

Sabem aquela criança que não pode esperar para dar um sorriso? Essa é Sophia.
E aos sete anos já destacava no meio de todas as outras crianças.
Quando sorria, a pequena Sophia iluminava qualquer sala ou salão, e não é só uma figura de linguagem, aquela menina simplesmente tinha o brilho de mil estrelas naquele sorriso tão pequeno e, ao mesmo tempo, tão grande!

Se corria, ninguém prestava atenção nos seus pés, quem se importa que seja rápido com aqueles cachos tão negros balançando a casa passo? Queriam mais é que ela se demorasse bastante naquelas corridinhas de menina.

Eu, particularmente, sabia que algo grande esperava pela pequena Sophia. Só não sabia o que.

Cada vez que acordava Sophia encarava seu dia como as crianças de sua idade encaram, eram brincadeiras, sorrisos, o carinho da mãe e do pai... Mas algo incomodava secretamente Sophia.
As crianças não devem se preocupar com sonhos, mas Sophia sonhava a tanto tempo com aquilo, estava tão curiosa, e vocês sabem como é a curiosidade infantil: uma vez disparado o alarme, só silencia após a última gotinha de conhecimento ser absorvida com a sede de quem nunca bebeu daquele jarro.

Perguntou pra mãe e pro pai, mas os dois isolados no seu mundo adulto não conseguiram entender o sonho da menina, ela não entendeu bem porque os que mais a amavam não podiam ajuda-la a decifrar aquele sonho, mas preferiu apenas sorrir e voltar pra sua vida.

Os anos passavam, Sophia não era mais aquela menina, exceto pelo olhar e pelos cachos que pareciam ser os mesmos.
Os sonhos não se repetiam mais, a vida era comum dividida entre a escola, as amigas e o namorado, mas aquele sonho de menina continuava na cabeça, ela havia comentado com as amigas, que riram e mudaram de assunto. O namorado ouviu com atenção, mas não soube o que dizer, ela não esperava outra coisa, ele sempre a entendia e a confortava, mas não era do tipo que se dissolve em conselhos.

Sophia pensava sempre no seu sonho, e achava estranho como muitas memórias da sua infância foram suprimidas e aqueles continuavam vivas, completamente claras em sua memória.
Uma noite de inverno, enquanto dormia aquecida e protegida do frio lá de fora, o sonho voltou, e, na manhã seguinte reunindo todas as gotas de sabedoria que tinha bebido até aquela idade tudo parecia claro.
E junto com a compreensão daquele sonho outras coisas vieram.
Sophia aprendeu que algumas coisas só o tempo podiam revelar, e que nem sempre seria salva de seus conflitos por aqueles que a amavam.

Sophia agora estava pronta para o mundo.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Desafio

Então fechei os olhos e pulei. Não era um barranco tão alto assim, e lá em baixo a terra era fofa, certamente amorteceria minha queda, mas aquele pequeno obstáculo ia me ajudar a controlar meu medo.
Fiz isso todos os dias por um mês, no caminho da escola pra casa. Todo dia era um novo arranhão, ou um rasgo na camiseta... não importavam os danos, importava era como eu ia encarar isso.
Ao fim daquele mês eu já não temia o penhasco, precisava procurar outro desafio.
Mais a frente encontrei um pequeno riacho, então todo dia eu deixava as coisas da escola em casa e voltava pro riacho. Me atirava nele, primeiro apenas tentando sobreviver e, depois de algum tempo, me lançando contra a correnteza. Demorou pouco mais de um mês e eu aprendi a não temer mais o riacho.

Fui sempre buscando obstáculos maiores pro meu medo, sempre vencendo-o de forma heróica e silenciosa, não contava meus triunfos a ninguém, sempre foram vitórias pessoais.
Então, finalmente, encontrei um adversário difícil de ser combatido, não era grande, nem assustador e muito menos impossível de ser vencido.
O adversário era o relacionamento, e foi nesse momento da minha vida que eu descobri que traçava metas pessoais para não ter que me relacionar com os outros.
O silêncio sempre respondia muito bem as minhas questões, mas agora não adiantava mais.
A desconfiança não fazia parte da minha vida, porque eu me conhecia muito bem pra desconfiar de qualquer coisa.
O amor sempre era sempre algo íntimo e abstrato.
Eu precisava transpor aquela barreira e não sabia como, eu que sempre dominei o medo, pela primeira vez deixei ele me dominar e me pôr de castigo em uma grande e confortável cadeira chamada Comodismo.
E pra sair daqui, como faço? Eu sei que a resposta não esta muito longe de mim, e que pra alcança-la talvez eu só precise me levantar...