sábado, 28 de fevereiro de 2009

Na Janela

Eu tenho uma janela
que realmente não dá pra lugar nenhum
Na janela não tem vento, não tem paisagem
muito mal uma brecha de sol

Eu me penduro na janela
olho pro nada, não sinto vento
vejo minha brecha de sol e sossego

Sinto o vazio, sinto a solidão
penso, penso, penso
mas nada me tira daquela janela

Eu ali sem vento e com pouco sol
às vezes viajo sem sair da janela
muitas vezes, por sinal
mas é sempre a mesma janela no final

Na janela eu não faço nada
só observo, só vejo minha brecha de sol ir e vir
eu nunca penso em fechar a janela

Fecho algumas portas, sempre batendo-as
às vezes até puxo um pouquinho as cortinas
mas nunca por muito tempo:
sempre que passo e as cortinas estão puxadas, acho que fechei a janela.

Mesmo quando chove, deixo a janela aberta
Sempre encaro como uma ótima oportunidade pra observar a chuva
Daí sento no batente e percebo que a janela só dá para o nada
e me contento com aquele som distante.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Sonho

Fecho os olhos,sinto sua respiração.
Minha imaginação é tão fértil que mais alguns passos e eu poderia te tocar, mesmo estando tão longe de mim.

Focalizo seu sorriso na minha mente, mas eu estou tão doente que quase o perco a cada minuto.
Focalizo seus olhos, tudo sobre você, mas não adianta mais.
Te deixei partir mais uma vez.

Se foi sem nunca saber o quanto eu te amei.
Tento impedir que se vá, te escondo dentro de mim... mas peraí, não foi exatamente por isso que você partiu? Por estar tanto tempo preso dentro de mim...
Então eu grito, faço todos ouvirem o quanto te amo, e eles ouvem. Eles, não você.

Eu corro a rua inteirinha com meu coração na mão, te vejo lá no final mas nunca chego ao final.
Começo a me sentir cansada, sento no meio fio e você continua lá.
olhando sua silhueta contra o sol que começa a descer eu posso ouvir aquela música que sempre me fazia lembrar de você:

" Should i give up,
Or should i just keep chasing pavements?
Even if it leads nowhere,
Or would it be a waste?
Even if i knew my place should i leave it there?
Should i give up,
Or should i just keep chasing pavements?
Even if it leads nowhere "

A música é cantada em sussuros, e eu conheço a voz que canta... é você esta lá atrás de mim, cantando aquela música... e eu me viro ansiosa por um abraço e você some de novo.

Eu me desespero, me sinto perdida... mas não posso me achar se toda vez que eu chego tão perto, você simplesmente desaparece.
Me concentro, fecho os olhos e vou pro único lugar onde eu sei que você sempre estará: dentro de mim.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Furacões

Que você me ame
e o diga
Voaremos juntos, então
Somos criaturas de vento e poeira

Somos vento quando fortes
e poeira quando nos deixamos levar
Somos mais do que imaginamos ou queremos ser
Somos o que nós não esperávamos ser.

Nos transformamos a cada minuto
Mas por dentro sentimos sempre o mesmo
O desconforto da existência
O silêncio que causa eco

Porque?

Precisamos mudar mesmo que não seja definitivo
Precisamos nos sentir frescos como uma nova brisa
Mesmo sabendo que o furacão que guardamos
É velho companheiro

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Entre as linhas.

- Eu sonhei com você essa noite.
- E como foi?
- Não lembro direito.
- Aposto que foi louco, todos os seus sonhos são.
- E eu aposto que você é um chato, nunca vi julgar os sonhos dos outros.
- Boba!
- Tá bom...
(silencio)
- Tá curioso?
- Pelo quê?
- , o sonho!
- Ah, o sonho... não, eu só queria saber mesmo.
- Você nunca fica curioso?
- Talvez
- Talvez o quê?
- Nada, você pergunta sobre tudo!!!
- Simples, é que ao contrário de você eu fico muito curiosa.
- Você vive assim.
- É só que eu não sei mexer com as entrelinhas e todas essas coisas, então uso das perguntas.
- É porque com elas não se mexe, tente ler da próxima - ele ri, ela não.
- E você me entendeu, vive pra me irritar.
- Talvez.
- E continua.
- O quê, irritando? Eu juro que parei.
- Não, não é isso.
- Então ...
- É só que você continua a usar as entrelinhas mesmo sabendo que eu não as vejo.
- Talvez! - e agora os dois riem.
- Faz piada de tudo, tá vendo? Te conheço melhor a cada segundo.
- Tá, mas pra nos conhecermos mesmo levaria a eternidade... tem muita coisa escondida... dos dois lados.
- É e você nem imagina. - ela sussurra como se ninguém a pudesse ouvir.
- Ahn?
Ela fica vermelha.
- Você é insano.
- Não foi isso!
- Talvez. - agora ela ri.
- Tá bom, engraçadinha! - ele fecha a cara na tentativa de suborná-la.
- De nada, também te amo!
- Como? - A frase quase provocou eco, ela enrubesceu e ele imediatamente iluminou seus olhos.
(silêncio)
- Ok então, hora de aproveitar a trégua e ir antes que você recomece a temporada de piadinhas que me irritam.
- Como quiser, pode voltar sempre que o estoque é grande.

Ambos sorriem, e se despedem de longe.
Diferentes direções
Diferentes lares
Diferentes visões
Mas dentro do peito a mesma vontade de gritar.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Sophia

Sabem aquela criança que não pode esperar para dar um sorriso? Essa é Sophia.
E aos sete anos já destacava no meio de todas as outras crianças.
Quando sorria, a pequena Sophia iluminava qualquer sala ou salão, e não é só uma figura de linguagem, aquela menina simplesmente tinha o brilho de mil estrelas naquele sorriso tão pequeno e, ao mesmo tempo, tão grande!

Se corria, ninguém prestava atenção nos seus pés, quem se importa que seja rápido com aqueles cachos tão negros balançando a casa passo? Queriam mais é que ela se demorasse bastante naquelas corridinhas de menina.

Eu, particularmente, sabia que algo grande esperava pela pequena Sophia. Só não sabia o que.

Cada vez que acordava Sophia encarava seu dia como as crianças de sua idade encaram, eram brincadeiras, sorrisos, o carinho da mãe e do pai... Mas algo incomodava secretamente Sophia.
As crianças não devem se preocupar com sonhos, mas Sophia sonhava a tanto tempo com aquilo, estava tão curiosa, e vocês sabem como é a curiosidade infantil: uma vez disparado o alarme, só silencia após a última gotinha de conhecimento ser absorvida com a sede de quem nunca bebeu daquele jarro.

Perguntou pra mãe e pro pai, mas os dois isolados no seu mundo adulto não conseguiram entender o sonho da menina, ela não entendeu bem porque os que mais a amavam não podiam ajuda-la a decifrar aquele sonho, mas preferiu apenas sorrir e voltar pra sua vida.

Os anos passavam, Sophia não era mais aquela menina, exceto pelo olhar e pelos cachos que pareciam ser os mesmos.
Os sonhos não se repetiam mais, a vida era comum dividida entre a escola, as amigas e o namorado, mas aquele sonho de menina continuava na cabeça, ela havia comentado com as amigas, que riram e mudaram de assunto. O namorado ouviu com atenção, mas não soube o que dizer, ela não esperava outra coisa, ele sempre a entendia e a confortava, mas não era do tipo que se dissolve em conselhos.

Sophia pensava sempre no seu sonho, e achava estranho como muitas memórias da sua infância foram suprimidas e aqueles continuavam vivas, completamente claras em sua memória.
Uma noite de inverno, enquanto dormia aquecida e protegida do frio lá de fora, o sonho voltou, e, na manhã seguinte reunindo todas as gotas de sabedoria que tinha bebido até aquela idade tudo parecia claro.
E junto com a compreensão daquele sonho outras coisas vieram.
Sophia aprendeu que algumas coisas só o tempo podiam revelar, e que nem sempre seria salva de seus conflitos por aqueles que a amavam.

Sophia agora estava pronta para o mundo.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Desafio

Então fechei os olhos e pulei. Não era um barranco tão alto assim, e lá em baixo a terra era fofa, certamente amorteceria minha queda, mas aquele pequeno obstáculo ia me ajudar a controlar meu medo.
Fiz isso todos os dias por um mês, no caminho da escola pra casa. Todo dia era um novo arranhão, ou um rasgo na camiseta... não importavam os danos, importava era como eu ia encarar isso.
Ao fim daquele mês eu já não temia o penhasco, precisava procurar outro desafio.
Mais a frente encontrei um pequeno riacho, então todo dia eu deixava as coisas da escola em casa e voltava pro riacho. Me atirava nele, primeiro apenas tentando sobreviver e, depois de algum tempo, me lançando contra a correnteza. Demorou pouco mais de um mês e eu aprendi a não temer mais o riacho.

Fui sempre buscando obstáculos maiores pro meu medo, sempre vencendo-o de forma heróica e silenciosa, não contava meus triunfos a ninguém, sempre foram vitórias pessoais.
Então, finalmente, encontrei um adversário difícil de ser combatido, não era grande, nem assustador e muito menos impossível de ser vencido.
O adversário era o relacionamento, e foi nesse momento da minha vida que eu descobri que traçava metas pessoais para não ter que me relacionar com os outros.
O silêncio sempre respondia muito bem as minhas questões, mas agora não adiantava mais.
A desconfiança não fazia parte da minha vida, porque eu me conhecia muito bem pra desconfiar de qualquer coisa.
O amor sempre era sempre algo íntimo e abstrato.
Eu precisava transpor aquela barreira e não sabia como, eu que sempre dominei o medo, pela primeira vez deixei ele me dominar e me pôr de castigo em uma grande e confortável cadeira chamada Comodismo.
E pra sair daqui, como faço? Eu sei que a resposta não esta muito longe de mim, e que pra alcança-la talvez eu só precise me levantar...